PROCURANDO E ENCONTRANDO O FUNDO DO POCO

05/09/2012 17:45

 

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Hoje cedo vi este simpático conto entre as postagens do FACEBOOK do meu amigo virtual Roberto Bova. Perguntei se era ele o autor, ele me disse que não, procurei e acabei encontrando uma dezena de postagens do mesmo texto, e em uma delas mencionava o autor: Décio Bazin, autor de livros sobre mercado acionário.

Segue o conto, divirta-se…

Não me lembro de tudo, “sêo” Delegado. Mas parece que o caso foi mais ou menos assim: Há meses que todo mundo só falava em Bolsa de Valores, cotações, riquezas, bancários que tinham investido o 13º salário em ações e agora eram banqueiros. Eu fui um dos últimos a entrar: queria antes ter a certeza que a coisa funcionava. Minha mulher era dona de umas economias em letras de câmbio, eu sempre gostei de economizar; e, além disso , o meu fusca já estava pago. Um colega apresentou-me ao corretor. Bons tempos. Belgo Mineira de 14 caiu para 12, por causa de uma ações falsas que surgiram no Mercado. – Belgo a 12 é o fundo do poço-, segredou-me o corretor.- Vai fácil para 28 em menos de três meses. Empreguei primeiro as minhas economias. Três dias e belgo disparou para 18. Arrependi-me de não ter resgatado as letras de câmbio da minha mulher e enterrado tudo em Belgo. Mas ainda tinha o fusca, que vendi por dez “milhas” à vista. Então, houve um recuo de Belgo para 15. – É uma queda técnica-, inventou o corretor. – Belgo a 15 é moleza, é até covardia. Assim, eu enfiei o dinheiro do fusca na Belgo para aproveitar a “queda técnica” – a 15. Belgo depois caiu para 13,12,11… – Belgo a 11 é o piso – , explicou o corretor, com toda a sua sabedoria técnica. – Não pode cair mais. Nossos analistas fizeram um estudo e chegaram à conclusão de que esse papel está… – … no fundo do poço – , completei. Parecia que estava mesmo. O papel batia em 11 , depois subia para 13. Resgatei as letras de câmbio da minha mulher e entrei na Belgo a 10 numa repentina “queda técnica”. Eu pensei que estava começando a entender o jogo. Só que logo as coisas começaram a ficar meio esquisitas. Belgo caiu para 8, depois subiu para 10. Quando caiu para 7, o corretor telefonou-me excitado: – Belgo a 7 é incacreditável. Quer entrar numa tacada grande, mas grande pra valer? Você faz uma operação a termo, nós entramos com a garantia. Esse papel vale no mínimo 15. Na próxima virada do Mercado você faz um faturamento alto. E a alta esta iminente. E eu entrei no mercado a termo, cheio de esperanças. Só que um mês depois, fui ao escritório do corretor, para fazermos o acerto de contas final. – É, infelizmente não deu certo – , falou ele, com toda segurança dos profissionais consumado. – São coisas do Mercado. Mas na bolsa a gente se refaz depressa. É hora de comprar ma-ci-ça-men-te. Neste momento, nós já estamos abaixo do fundo do poço. – O acerto final foi assim: fiquei a zero, sem nada. Minhas economias, o fusca, as letras de câmbio da minha mulher… Tudo perdido. Fui saindo, meio zonzo. – O corretor fez questão de acompanher-me até o elevador. Chegamos. Devido a algum defeito, a porta estava escancarada para o vazio, para os dez andares do poço do elevador. E o corretor falando, falando, falando… tive uma privação de sentidos , ou coisa semelhante. – Dizem , “sêo” Delegado, que empurrei o homem. Não sei. Não me lembro. A única coisa de que tenho certeza é que , afinal o corretor conseguiu achar o fundo do poço.