Por onde andam os grandes traders ?

Por onde andam os grandes traders? 

Quando eu comecei nisso daqui, há alguns anos, as histórias eram tantas. Podíamos ouvir como quem conta barraquinhas de churros aqui em Santos os feitos - para o bem ou para o mal - desse ou daquele operador que ganhou e que perdeu uma ferrari no mesmo dia. As anedotas eram muitas e, acreditem, a grande maioria tinha um final triste. 

O mercado era outro, só subia e muitas pessoas sequer sabiam o que era análise técnica ou se importavam com isso. É fácil imaginar que se você vem trazendo VALE5 desde os dois reais no braço e já está com um PL acima de 50 milhões na sua conta corrente - que, até há alguns anos, não tinha mais do que duzentos mil - você não está muito ai para as coisas. Se sente uma espécie de Deus em um Olimpo, olhando de cima os homens abaixo, franzinos, prontos para serem esmagados por suas operações formidáveis. Tudo sobe, tudo é gain, tudo é lindo, você é o cara! 

Lembro de, uma vez, no Rio de Janeiro, na Barra mais especificamente falando, ter ido até a casa de um amigo. Lá, estava uma figura conhecidíssima do mercado a qual eu não revelarei o nome - por motivos lógicos. O sujeito estava na casa desse amigo de favor. Havia perdido tudo até há pouco tempo, mas já estava de volta na ativa, novamente, com seu notebook, celulares e termando até o inferno. "Terma isso pra amanhã!" - ele dizia; ou melhor, gritava. Já havia saído do zero e estava em quase sete dígitos, em pouco mais de duas semanas. Lá estava ele, novamente, fazendo o que gostava. 

Não era preciso ser um grande conhecedor da bolsa para saber que o final do cara seria a mesmíssima coisa: Poderia ganhar dez vezes, mas, quando perdesse, e iria perder, ele entregaria tudo e mais ou pouco. Mas, sabe de uma coisa? Posso ser sincero com vocês? Eu admiro esse cara. Não pelo absoluto abandono dos preceitos do risco-ganho, da sua falta de conhecimento técnico ou da sua empáfia diante do mercado, mas pura e simplesmente porque ele é um especulador das antigas. Aquele que se confunde meio a meio com o jogo; hora especulador hora jogador. 

Sabem, vivemos em um ambiente tão estéril hoje em dia que fica difícil vermos figuras como essas, novamente. Hoje em dia as corretoras, com seus HB's multi-touch e suas corretagens de 0.25 centavos, inundaram o mercado do simuladores, livros digitais e cursos de R$ 50.00 reais, atraindo e formando um exército de "especuladores" que passam cinco, seis anos operando 1 mini índice com 15.000.00 reais em suas contas e suando a cada vez que apertam o botão do play. Cada ponto não está ameaçando zero vírgula uma porrada de zeros do seu capital, mas, mesmo assim, a cada vez que compra ou vende, o elemento vomita. 

Sinto saudade da contas abertas com duzentos mil "para testar" ou dos sujeitos que gritavam, ao final do pregão: "Passei comprado!" e, ao perguntarem: "Com quanto?" - estes respondiam: "Com as calças!". Eu sei que muita gente falará: "Absurdo! Esses caras todos quebraram! você sabe que isso é errado! Está prestando um desserviço à comunidade!" - Mas, me perdoem os puritanos, mas esse era o uísque do mercado; todo mundo sabe que faz mal, mas os homens de verdade o bebem.

Fica aquela sensação romântica do futebol antigo e que não voltará mais. Do Garrincha, ingênuo, fazendo fila sempre com os mesmos dribles; bebendo, faltando aos treinos, fumando, mas mesmo assim sendo um craque. Todos sabiam, à época, que aquilo não acabaria bem, mas, mesmo assim, ninguém conseguia deixar de observá-lo jogar. 

Hoje em dia ficou tudo muito chato, muito cinza, muito programa da Fátima Bernardes. Temos 80% do mercado operando dois contratinhos e com todo o resto em CDB, suando só de pensar quando aumentarão para cinco, 15% do mercado em simuladores eternos, 4% naquela eterna promessa de que um dia voltará e que se está trabalhando para isso e 1% operando grande, mas sem toda aquela pirotecnia, sem as cortinas abertas.

Que 2008 machucou muito não é novidade para ninguém. Foi o divisor de águas: Separou os homens dos meninos e muitos dos que foram lavados naquela data jamais voltarão a bater uma boleta em suas vidas. 2008 foi assassino, mas, dentre tudo que ele assassinou, o que mais me faz falta foi a coragem dos velhos tubas, que foram embora para nunca mais voltarem.