Pode-se confiar nos preços-alvo ou Benjamin Graham estava errado? O estrategista

22/08/2012 13:16

 

Relatórios de empresas, em regra, indicam o preço-alvo ou justo para a ação. Por incorporar expectativas de longo prazo, ele tende a ser menos volátil. Reportagem da ValorInveste de julho/12 mostra o contrário. A teoria de Benjamin Graham está morta?

O cultuado gestor Benjamin Graham criou o personagem Mr. Market, investidor que diariamente vem a mercado procurar os acionistas para comprar ou vender ações. Ora oferece preços razoáveis, ora preços absurdos pelos ativos. O acionista é livre para negociar ou não. A ideia por trás da alegoria criada por Graham é de que o acionista não deve se ater ao preço volátil do mercado, mas ao valor intrínseco da ação, por ser mais consistente.

Em regra, o preço intrínseco ou preço-alvo ou preço justo (“target price”, em inglês) é calculado com base na metodologia do fluxo de caixa descontado, pela qual a geração de caixa futura da companhia é trazida a valor presente a uma determinada taxa de desconto e deduzido o endividamento líquido. Posteriormente, esse valor é dividido pela base acionária.

Como leva em conta expectativas futuras, espera-se que o preço-alvo não sofra fortes oscilações. Contudo, matéria da ValorInveste de julho/12 mostra o contrário.

Em algumas situações, um fato marcante explica a revisão do preço-alvo. Recentemente, os preços justos de duas companhias – Eletropaulo (ELP4) e OGX (OGXP3) – calculados pelos analistas sofreram forte deterioração, com reduções de quase 50%. As tarifas da primeira tiveram queda na revisão tarifária definida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A estimativa do mercado era mais otimista do que a do órgão regulador, pois o segundo adotou um ativo regulatório inferior ao que vinha sendo adotado pelos analistas de mercado. Já a OGX teve seu preço-alvo reduzido devido ao desapontamento do mercado com as novas estimativas de produção fornecidas pela companhia.

Mas essas mudanças nos preços justos têm ocorrido de maneira corriqueira e não somente mediante grandes eventos. A reportagem mostra que os preços-alvo de empresas como Petrobras (PETR4), Cielo (CIEL3), PDG (PDGR3) e Pão de Açúcar (PCAR4) apresentaram alterações significativas nos últimos dois anos, tomando-se por base dados da Bloomberg.

Por que essas alterações ocorrem? Há vários motivos. Os analistas podem estar utilizando premissas muito otimistas, casos da OGX e Eletropaulo. Com o tempo, aquelas estimativas se provam errôneas. Erros na projeção são mais comuns do que imaginamos.

Além disso, o preço-alvo não é influenciado apenas por dados operacionais. A taxa de desconto é influenciada por indicadores macroeconômicos como o risco-país, por exemplo. No passado, quando a economia brasileira era mais volátil, crises afetavam fortemente o risco-país e, por consequência, aumentavam a taxa de desconto, derrubando o preço justo.

Percebo também desconforto dos analistas quando seus preços-alvo se distanciam muito da cotação corrente. Exemplo clássico ocorreu na crise de 2008. Em decorrência da situação de pânico, as ações das companhias apresentaram forte desvalorização. Assim, muitas passaram a apresentar potenciais de valorização (a diferença entre o preço justo e a cotação atual) de três dígitos. Vários analistas correram para reduzir agressivamente seus “target prices”. Embora o futuro parecesse incerto e algumas premissas devessem ser alteradas para atender a esse novo cenário, o valor intrínseco das companhias não podia ter se modificado tanto. A forte recuperação das cotações nos anos seguintes mostrou que Graham estava correto e a revisão dos preços-alvo havia sido um erro.

Embora o preço-alvo deva ser visto com restrições devido às inúmeras fragilidades da metodologia do fluxo de caixa descontado, o princípio de Graham continua válido: é o preço de mercado que deve buscar o valor intrínseco e não o contrário. A oscilação é característica do preço de mercado e não do preço alvo. Alterações significativas do preço-alvo devem ser vistas como um evento raro. Contudo, o conceito de preço justo tem sido banalizado pelo mercado.

 5 Postado por: André Rocha Seção: Análise de ações
Valor Invest