O poder preditivo da Análise Técnica - 17/09/2012 | 19:27

18/09/2012 08:22

 

Nos últimos pregões houve forte movimentação baixista no setor elétrico, como reflexo de medidas governamentais que forçam a revisão tarifária dos contratos de concessão para baixar o preço da energia para consumidores domésticos e industriais. Independentemente da avaliação das medidas do ponto de vista do seu resultado final para a economia (que eu acredito serem negativas pela forma que foram levadas a cabo), será que a Análise Técnica poderia auxiliar algum trader ou investidor que possuía posições compradas nas ações que fazem parte desse setor?

Antes de tentar responder a essa indagação de forma consistente, darei um passo atrás para avaliar as teorias que tentam descrever a movimentação dos preços dos ativos financeiros. Num extremo temos a teoria da “random walk”, que defende uma total incapacidade de prever qualquer movimento dos preços no futuro. Tal hipótese está ancorada em alguns preceitos, como a simetria de informação entre os participantes do mercado (receberem as mesmas informações ao mesmo tempo), a tomada de decisão racional em busca do maior lucro possível e a não existência de custos para transacionar os ativos. Ou seja, nada mais afastado da realidade do mercado. No outro extremo temos a Análise Técnica, que defende a existência de padrões de movimentação de preços que podem trazer uma certa previsibilidade no movimento futuro dos preços ou a Análise Fundamentalista que prediz uma maior chance de alta para um ativo que esteja negociado abaixo do seu “valor justo”, por exemplo. A verdade é que cada uma dessas teorias tem um pedaço do quebra-cabeça para tentarmos explicar o movimento dos preços.

Em situações como a queda das elétricas nos últimos dias podemos avaliar a utilidade destas teorias. Do ponto de vista da “random walk” o movimento de queda está dentro das possibilidades de movimentação de qualquer percentual de variação no preço em qualquer tempo. Mas utilizando uma distribuição normal para definir a chance dessa queda (muitos modelos de controle de risco utilizados por gestores usam essa abordagem), chegaríamos a conclusão que seriam necessários mais de dez mil anos de mercado para tal movimento acontecer uma única vez! Em outras palavras, existe um sério problema na forma que os gestores estão controlando o risco das suas carteiras. Já do ponto de vista da Análise Fundamentalista, os papéis do setor eram considerados seguros por muitos analistas, já que as suas receitas eram previsíveis e estáveis. Entre muitos players estes eram considerados papéis defensivos...

Já do ponto de vista da Análise Técnica, os papéis já haviam saído de uma tendência de alta muito antes das notícias virem a público. Esta é mais uma evidência da assimetria das informações entre os participantes do mercado, ou seja, alguns recebem as informações antes dos outros. Logicamente podemos imaginar que os maiores players, por terem mais contatos e recursos conseguem as informações antes do público geral e portanto produzirão compras ou vendas de maior vulto no mercado, o que será notado pelos analistas técnicos. Foi provavelmente o que aconteceu com as elétricas.

Podemos utilizar o gráfico de um ativo do setor com boa liquidez para fazer uma avaliação, por exemplo, CMIG4. O papel vinha em bela tendência de alta no ano, com uma variação positiva de mais de 50%. No dia 23/08 houve a primeira movimentação “estranha”, quando o papel chegou a cair mais de 6% no dia, com forte volume. Neste ponto já havia sido produzida a perda da média de 21 períodos e de fundos anteriores, primeiros sinais de mudança de tendência. 



Alguns dias depois, em 31/08 foi divulgada a MP que permitia a intervenção do governo nas elétricas em dificuldades financeiras e o papel confirmou graficamente uma tendência de baixa, com topos e fundos descendentes. A partir deste ponto, qualquer trader que utilizasse a Análise Técnica para tomar decisões não poderia mais estar comprado no papel. 



Após alguns dias de movimento lateral, o papel perdeu o fundo anterior no dia 11/09 com aquilo que chamo de uma barra de força, sinalizando a continuação do movimento negativo. No dia posterior, o desastre foi confirmado com um gap de baixa de 13%!





Não estou defendendo a possibilidade da AT ter antecipado exatamente uma forte queda, mas sim a capacidade da ferramenta para identificar uma força vendedora crescente e a maior chance de continuação da queda. Os grandes players podem esconder do público as informações possuídas para tomar decisões, mas eles não tem como esconder as suas compras e vendas que movimentam os preços e sensibilizam os gráficos.

O mesmo aconteceu no passado em quedas históricas. As ações da Enron, por exemplo, apresentavam forte tendência de baixa mesmo com os seus múltiplos excelentes. Depois de cair desde o topo histórico na casa dos US$ 90,00, o papel produziu uma congestão na faixa de US$ 27,00, quando muitos bancos de investimentos soltaram relatórios para os seus clientes, defendendo a maior oportunidade de compra nas últimas décadas, já que o papel estava muito barato, ou seja, o seu preço justo era muito maior do que aquele oferecido no mercado. Logo em seguida veio a tona o escândalo de adulteração dos balanços e a empresa quebrou. No processo judicial seguinte, ficou claro que os maiores sócios estavam vendendo as ações e tais vendas produziram a tendência de baixa desde os US$ 90,00, muito antes que as informações negativas viessem a público. Mais uma evidência da capacidade da Análise Técnica em deixar o trader “bem informado” sobre as maiores chances de movimentação no futuro. Quem operou seguindo a tendência deixou de perder dinheiro na pior das hipóteses ou ganhou muita na venda a descoberto na melhor das hipóteses.



Não creio que exista qualquer abordagem capaz de gerar uma taxa de acerto de 100% nas operações, mas acredito que a Análise Técnica pode dar uma vantagem ao trader na identificação do movimento mais provável na maior parte das vezes. Na verdade, um trader experiente descobre que nem é preciso estar correto na maior parte das vezes, mas sim deixar as operações vencedores seguirem por mais tempo e por maior percentual de variação de preço que as operações perdedoras para alcançar o sucesso. A partir deste nível de compreensão do mercado o grande desafio passa a ser conseguir controlar a carga emocional para cortar logo prejuízos pequenos e deixar os lucros crescerem em cada trade.