Graciliano Ramos - Resumo ANGUSTIA

02/12/2012 10:52

 

Graciliano Ramos

RESUMO I

Angústia é a história de Luís da Silva, um tímido e solitário funcionário público, que vive num bairro distante e pobre, numa casa velha, cheia de ratos. Além de trabalhar o dia todo na repartição, à noite, para ganhar uns trocados, escreve textos sob encomenda para um jornal. Após trinta dias de cama, curando-se de uma enfermidade, causada por um abalo nervoso, se vê de pé, retornando ao trabalho e às atividades normais. Nesse processo, pelo fio da memória, resgata o passado, na tentativa de reconstruir o que havia ocorrido.

No longo trajeto do bonde, da repartição à sua casa, as sombras do cotidiano se arrastavam, misturando-se em sua mente, formando um novelo confuso. O dinheiro era pouco e estava com o aluguel atrasado. Com um poder doentio de auto-análise, Luís tinha consciência de que levava uma vida idiota e frustrante, desenvolvendo uma ojeriza, um asco aos outros e a si mesmo. Odiava o seu senhorio, como também Julião Tavares, sujeito gordo, eufórico, vermelho, eloqüente e rico, que, sempre fingindo superioridade, insistia em conversar com Luís.

Voltou a ser criança na fazenda do avô, Trajano, grande latifundiário decadente, caduco e bêbado; da avó, sinhá Germana; do pai, Camilo Pereira da Silva, dono de uma preguiça atroz que só vivia lendo, deitado na rede. Dele, infelizmente, tinha herdado o gosto pelas letras. O pai morreu quando tinha catorze anos. Era um defunto grande, envolto em um lençol branco, manchado de sangue na região da cabeça; os pés descobertos eram imensos, ossudos e sujos, com unhas róseas. Essa morte forçou-o a sair de casa; encontrou-se novamente no quarto abafado da pensão sórdida na cidade; as idas ao cinema com a sobrinha de dona Aurora, a proprietária da pensão.

Não conseguia mais escrever, esses fantasmas familiares, freqüentemente, vinham assombrá-lo. Um dia fez amizade com sua vizinha, Marina, moça vermelha, de olhos azuis e cabelos amarelos. Apaixonado, pediu-a em casamento. Como queria casar logo, deu-lhe todas suas economias para o enxoval. Nesse momento, entrou em cena Julião Tavares que, tendo tudo o que o outro não tinha, principalmente dinheiro e posição social, conquistou, facilmente, a leviana Marina que, sem dificuldades, se deixou seduzir, ignorando Luís completamente.

Este, humilhado e ludibriado, mergulhou no abismo interior da derrota, adquirindo impulsos mórbidos de morte. Um dia, Ivo, o mendigo que, às vezes, procurava Luís para uma cachacinha e um prato de comida, deixou um rolinho de corda sobre sua mesa, o que lhe despertou um horror incontrolável. Com medo, escondeu-o no seu bolso. Os ratos e os vizinhos dos lados faziam um barulho enorme, irritando-o.

Luís notou que Julião tinha deixado de visitar Marina. Com certeza, já tinha conseguido seu intento e estava em busca de carne e rosto novo. Abandonada, Marina não mais saía de casa, andava abatida e sem jeito. Cada vez mais conturbado por seus fantasmas, Luís passou a seguir Julião. Um certo dia, encontrou-o no café e, de sua mesa, imaginou-se estrangulando-o, com a corda do mendigo Ivo, que trazia no bolso. Outro dia, sentindo-se frágil, cheio de culpa e autonegação, se viu atrás de Marina, que entrava na casa de uma parteira. Esperou-a, bebendo cachaça, num bar de frente. Quando esta saiu, com os olhos fundos e pálida como um cadáver, seguiu-a. Ao alcançá-la, desgostoso, agrediu-a moralmente e cobrou-lhe atitudes. Fazia tudo aquilo, por piedade, tinha muita pena de Marina. Depois de algumas investigações, Luís descobriu o arrabalde, onde Julião tinha uma nova aventura. Uma noite, protegido pela densa neblina, esperou-o à saída da casa. À medida que o seguia, atormentado pelas recordações, via Julião que ora sumia e ora surgia, flutuando no nevoeiro espesso. Indeciso quanto ao que fazer, continuava a perseguição. Julião parou para acender um cigarro, e Luís, apalpando a corda no bolso, sentia o sofrimento e humilhações vividos, cobrando-lhe compensação. Assim, num gesto rápido, saltou enlaçando o pescoço do rival que, desprevenidamente, acendia o cigarro; com toda sua força esticou a corda, estrangulando Julião, que, após debater-se, ali ficou, insignificante, "coberto de folhas secas, amortalhado na neblina". Uma imensa felicidade se apoderou de Luís, que se sentia forte; não era mais aquela pessoa sem importância, que se mexia pela vontade dos outros; todos os sofrimentos e humilhações viraram fumaça; era outro. No entanto, essa euforia durou pouco, logo sua mente começou a trabalhar, angustiando-o; um imenso pavor e desespero tomaram conta de todo seu corpo que, temia ser descoberto. Completamente transtornado, conseguiu chegar em casa, onde acabou com uma garrafa de cachaça e dormiu. Na manhã seguinte, sentindo-se doente, não foi trabalhar. Procurou em sua roupa marcas que o pudessem comprometer, mandou a camisa para a lavadeira, picou toda a gravata e deitou-se, entregando-se, desvairada e descontroladamente aos fragmentos de lembranças, extremamente doente, transtornado, sufocado pela angústia.

Fonte: Escola Vesper

RESUMO II

Publicado em 1936, Angústia, de Graciliano Ramos, um dos autores mais importantes do Modernismo, é um dos romances mais ricos que a Literatura Brasileira produziu, pois consegue passear tanto pelo campo social, quanto pelo existencial, psicológico e até metalingüístico.

Os fatos acontecem durante o primeiro governo de Vargas, pois o narrador faz referências aos crimes após a revolução de 1930. Predomina o tempo psicológico, pois o que prevalece durante a leitura é a ação interior, os pensamentos do protagonista. O enredo se arrasta moroso, de forma bastante aborrecido e aborrecedor, confirmando o título da obra.

A ação acontece em Maceió, capital de Alagoas. Além de ruas, cafés e casa de prostituição, predomina o espaço doméstico, em que se pode notar a decadência.

Primeiramente, pode-se interpretar a obra como reveladora da crise resultante da mudança de sistema, o que se vê pelas transformações que se processaram geração após geração, de Trajano, senhor de terras que fora poderoso, passando por seu filho, Camilo, que sedimenta a derrocada, terminando em Luís da Silva, o narrador, fruto de todo esse declínio.

Nesse contexto, o conflito que se estabelece entre o protagonista e Julião Tavares, este tomando daquele a posse da afeição de Marina, pode ser entendido como representação de uma nova ordem que se está estabelecendo e para a qual Luís da Silva estava completamente inadaptado.

Dois são os temas centrais. Se entrelaçam a leviandade e fraqueza moral da mulher e o poder da corrupção do dinheiro.

Personagens

Luís da Silva, protagonista e narrador, intelectual frustrado que sonha sempre que vai escrever e ficar famoso com suas obras.Tem aversão aos abastados. Complexado, tímido, acha-se feio, não consegue aceitar os amores e sensualidade dos outros, julgando tudo grosseiro e animalesco. No entanto, vive querendo sentir o cheiros das mulheres na rua e pensando indecências como ele mesmo diz.

Trajano, avô do protagonista, fazendeiro em tempos antigos.

Camilo, pai do protagonista, pessoa rude que para ensinar o filho a nadar enfiava-o dentro d'água, segurando por um braço, até quase se afogar.

Marina, vizinha, namorada do protagonista.Moça vaidosa e superficial, interesseira e vazia.

Julião Tavares, antagonista de Luís da Silva. Sujeito gordo, vermelho. Era literato e bacharel. Reacionário e católico.Aproveitando-se de sua condição econômica, seduz as moças e depois as abandona, até que é assassinado por Luís da Silva.

Moisés, figura muito interessante. É um judeu que não sabe cobrar, morre de vergonha de ter que cobrar o amigo Luís.

Vitória, criada de Luís da Silva, tem 50 anos de idade, cheia de pelancas no pescoço. Tem pelos no buço e verrugas escuras. É muito feia.

D. Adélia, mãe de Marina. Mulher sardenta, pessoa humilde.

Seu Ramalho, pai de Marina. Pessoa quieta. É ele quem censura o comportamento da filha.

Resumo

Luís da Silva recorda acontecimentos do passado, é o oprimido tendo tudo em seu histórico caminhando para o seu rebaixamento. Além de ser preterido por Marina sem qualquer justificativa, tem um histórico de vida recheado de dificuldades. Com a morte do pai, vê-se desamparado, vivendo de favor de casa em casa. Parte, tornando-se retirante, chegando a dormir nos bancos de praça e a pedir esmolas. Até que vira um humilde funcionário público, o que lhe dá um equilíbrio precário, pois se atola em dívidas, aumentadas com as despesas iniciais para o parco enxoval do casamento que havia assumido. Mora numa casa decrépita em uma vizinhança mais decrépita ainda, exageradamente preocupada em cuidar da vida alheia. Tem como empregada uma senhora cheia de manias, que acompanha pelos jornais com paixão as chegadas e partidas de navios e enterra seus trocados no fundo do quintal. Os acontecimentos que lhe vêm na lembrança tem a ver com pessoas que já morreram ou com a morte delas, como por exemplo o próprio pai, Camilo, e o avô Trajano. Entre as pessoas de quem ele se recorda, duas são insistentes e estão ligadas a fatos mais recentes da sua vida: Marina e Julião Tavares. Aos poucos dá para conhecer a história de como ele conheceu Marina, sua vizinha, como esta o conquistou. Chegou a pedi-la em casamento, mas isso não se realizou porque Julião Tavares apareceu e roubou Marina de Luís. Julião não se casou com ela. Depois de engravidá-la, ele á abandona. Marina aborta o filho.

Luís da Silva estava sufocado com a idéia de ter sido abandonado, indignado com o fato de Marina ter sido largada pelo cortejador, o que apressou nela um processo de decadência que culminou até no recurso criminoso do aborto, o protagonista atinge o ponto de ebulição quando toma conhecimento de que Julião Tavares estava impunemente de caso novo. De maneira doentia vigia os passos do seu oponente, até que numa madrugada surpreende-o voltando da casa da amante recente. Com a corda, que não saía do seu bolso, estrangula-o. Deixa-o pendurado numa árvore, a simular um enforcamento.

Tal delito, como se percebe, mostrava-se fruto de uma angústia em que se via Luís da Silva.

Após o crime, Luís recolhe-se em sua casa e fica febril, delirando. Um mês depois recupera-se e começa o livro em meio às reflexões, de mãos feridas, que não consegue realizar o seu serviço, pois em todo canto vê o rosto de Julião Tavares e se lembra do esganamento. Acompanhando-o em seu mergulho na rememoração de todo o contexto que gerou o assassinato, vemos que é uma sondagem existencial que vasculha a memória do narrador o que faz de Angústia uma obra que antecipa o romance intimista ou o psicológico. Nesse ponto, é interessante ver como os fatos vão puxando outros e compondo, no final de uma narrativa impressionantemente em nada caótica, o todo de uma personalidade em que o aspecto psicológico interpenetra-se ao social.

Trecho escolhido

Não me continha: saía de casa e andava à toa por estas ruas, fatigando-me em caminhadas longas. O inverno tinha começado, quase sempre caía uma chuvinha renitente. Ia sentar-me num banco da Praça dos Martírios, e os pingos que tombavam da folhagem das árvores molhavam-me a cabeça descoberta e escaldada. A sentinela cochilava no portão do palácio. Ao pé do morro, pedaços da igreja fechada apareciam entre os ramos. Um barulho horrível de motores e rodas. Automóveis a roncar. Todos queimavam gasolina misturada com perfume. Depois um rádio começava a trovejar óperas. O cheiro e o som tornavam-se insuportáveis. Esforçava-me por esquecer o nariz e o ouvido, abria os olhos. A sentinela cochilava encostada ao fuzil. Serviço pau. Um pobre homem dormindo em pé. Acordava, escancarava a boca, via com tédio as grades do jardim, o hall deserto, a escada ao fundo, vermelha. O tapete vermelho da escada me dava impressão desagradável. Podia ser de outra cor. As luzes do farol mudavam de minuto a minuto, branca, vermelha, branca, vermelha. Porque não aparecia uma terceira cor? Aquilo era irritante, mas o farol me atraía. Pelo menos variava mais que a sentinela, tinha mais vida que a sentinela.

Nesse excerto, Luís da Silva está atormentado com a idéia de Marina ir de carro à ópera na companhia de Julião Tavares. As lembranças da moça vestida de forma chique e seu perfume misturando-se à gasolina do veículo, além do vermelho, cor predileta dela e sua marca registrada, vão-se fundir de forma obsessiva, ecoando em vários elementos da praça. O mundo externo, na verdade, passa a ser visto filtrado e reinterpretado pelo transtorno mental do narrador.

Fonte: www.feranet21.com.br