As estratégias em bolsa pela ótica do empréstimo de ações

15/12/2012 09:24

 

22/08/2011 às 08h44

Postado por: André Rocha Seção: Ações

A análise das operações de empréstimo de ações pode dar algumas dicas de como os investidores estão observando o mercado. Quais as perspectivas para a bolsa? Quais setores podem estar com os preços esticados? Que ações parecem ter caído o suficiente? Quais apostas relativas estão sendo feitas?

O empréstimo de ações, também conhecido como aluguel de ações, é uma operação que vem se difundindo no mercado brasileiro. O proprietário da ação, que no jargão de mercado é conhecido como doador, empresta sua ação por um determinado prazo a um terceiro (o tomador) e em troca recebe uma taxa. Para investidores que pretendam manter sua carteira de ações por um prazo mais longo é uma boa oportunidade de se obter uma renda adicional.

Os dividendos creditados no período do empréstimo são pagos ao tomador, mas o Banco de Títulos (BTC), que administra as operações, se encarrega de repassar o crédito correspondente ao provento ao doador. Logo, o doador obtém a renda dos dividendos.

O investidor que toma emprestado as ações pode cobrir posições vendidas a descoberto (sem o papel em mãos) ou montar estratégias “long/short”, em que o desempenho do investimento não está vinculado ao comportamento da bolsa (leia mais sobre esse tipo de investimento no post “A estratégia long/short, algumas recomendações”).

Analisando-se o gráfico abaixo, percebe-se que a quantidade de operações apresentou forte incremento, especialmente no último trimestre de 2010. Uma possível leitura é que os investidores passaram a ficar pessimistas com as perspectivas para a bolsa após os primeiros sinais do recrudescimento da inflação e a expectativa de incremento dos juros. Assim, tomaram emprestados papéis para posterior venda, apostando na queda.

Interessante notar que durante a crise de 2008 não houve um crescimento tão acentuado do número de contratos. Minha visão é de que a turbulência de 2011 não é uma nova crise, mas continuação da anterior. Assim, em 2010, os investidores estavam mais atentos para os riscos da economia do que há três anos.

 

veja grafico no link abaixo

www.valor.com.br/valor-investe/o-estrategista/982500/estrategias-em-bolsa-pela-otica-do-emprestimo-de-acoes

 

Os dados do BTC permitem ainda acompanhar as ações mais procuradas para aluguel e suas taxas. Pode se perceber que o aluguel de ações ordinárias  (ON, com direito a voto) de Usiminas apresentava uma elevada taxa na semana de 15 de agosto, superando os 17% ao ano.

Uma possível leitura: com a compra de ações de Usiminas pela CSN, os investidores passaram a acreditar em uma troca de controle na companhia. As ações ordinárias tiveram desempenho superior ao das preferenciais em 63% no ano até 17 de agosto. Com isso, haveria oferta pelas ações dos acionistas votantes minoritários, pagando-se 80% do valor desembolsado aos controladores (oferta conhecida como “tag along”).

Com o aumento das ações emprestadas de ações votantes, parece que os investidores já não se mostram tão confiantes com essa possibilidade. Nos últimos dias, as preferenciais vêm apresentando melhor performance do que as ordinárias.

 

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Analisando-se as taxas dos empréstimos, percebe-se ainda que algumas empresas de varejo apresentavam taxas bem elevadas na semana de 15 de agosto. São elas as ações ordinárias de Lojas Renner, Marisa e Magazine Luiza, com taxas de 14,9%, 17,0% e 16%, respectivamente. Uma interpretação pode ser a de que os investidores consideram que essas ações estão com valorização esticada em decorrência da expectativa de uma redução do ritmo econômico.

O múltiplo Preço/Lucro (P/L) para 2011 desses papéis – de 18,4; 14,9 e 20 vezes, respectivamente, segundo dados da Bloomberg – pode corroborar essa visão. O P/L indica o número de anos necessário para que o acionista obtenha o retorno do investimento caso todo o lucro seja distribuído aos acionistas anualmente. O cálculo não leva em conta possíveis ganhos ou perda de capital nem que os lucros nos próximos exercícios serão iguais.

Outra possível interpretação é que o mercado parece acreditar que as ações do setor imobiliário apresentam pouco espaço para queda, por conta das baixas taxas praticadas. O segmento apresenta forte perda no ano. O índice imobiliário caiu 26,6% até 17 de agosto, enquanto o Ibovespa recuou 20,5%. 

As taxas das ações mais líquidas do setor como MRV, PDG e Cyrela encontravam-se em 3,2%, 0,5% e 3,4% ao ano na semana de 15 de agosto. Gafisa, que vem apresentando problemas operacionais decorrentes da operação de Tenda, apresenta taxa mais salgada, 7,9%.

Mas é bom dizer que não dá para obter uma conclusão definitiva apenas com a análise das  taxas praticadas. nos empréstimos de ações Esses custos estão relacionados com algumas situações, além das perspectivas operacionais para as companhias:

1. A taxa cobrada é inversamente proporcional à liquidez das ações (número de ações negociadas no mercado). Quanto mais líquida a ação, menor tende a ser a taxa cobrada;

2. Na época de assembleias, aumenta o número de operações de empréstimos para que os acionistas possam votar nas reuniões;

3.  Em alguns períodos, os doadores são refratários a emprestar as ações, o que eleva a taxa cobrada.

Alguns cuidados devem ser tomados. Por exemplo, quando se faz a doação das ações e não se pode cancelar o empréstimo antes do prazo final, o doador não consegue vender suas ações durante esse período. Assim, caso haja uma notícia negativa sobre a companhia, o doador assistirá inerte à queda de seu patrimônio.

Outro ponto é que, quando a taxa supera 6%, o investidor que aluga as ações com o objetivo de vendê-la para posterior aquisição possui um custo de carregamento elevado. Se as ações não caírem em um espaço curto de tempo, o pagamento da taxa pelo tomador começa a pesar, pois ela representa em torno de 50% da atual Selic anual.

Outra situação curiosa é que, em alguns momentos, os doadores passam a não querer renovar o empréstimo, provocando um aumento da demanda pelos papéis para que esses sejam devolvidos aos doadores. Isso pode gerar uma súbita alta da ação. Essa situação é conhecida como “short squeeze”.

Até o próximo post. Valeu.

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